Ana Luiza Boiago*

“São chegados os tempos”, diz-nos o Codificador da Doutrina Espírita no último capítulo de sua derradeira obra, intitulada A gênese – os milagres e as predições segundo o espiritismo. Com lógica e clareza, Kardec explica o momento de transição que estamos vivendo em nosso planeta, que se tornou ainda mais patente com o início da pandemia do coronavírus. Entretanto, o que significa para nós, evangelizadores, a passagem por momentos tão difíceis e conturbados como este?
Nesses instantes em que nossas vidas parecem mudar radicalmente, há uma necessidade imperiosa de dedicarmos nossas atenções à compreensão daquilo que Allan Kardec, em O livro dos espíritos, designou como flagelos destruidores. Na questão 737, dizem-nos os Espíritos que os flagelos destruidores atingem a humanidade segundo a vontade divina, a fim de “fazê-la progredir mais depressa”, acelerando, assim, o processo de renovação moral dos indivíduos, abreviando o progresso que seria feito, de alguns séculos para alguns anos. Temos de afastar, portanto, o pensamento infundado de que a situação atual é uma obra do acaso ou, ainda, planejada por Espíritos das trevas, uma vez que sua ocorrência é, na verdade, um recurso divino para evitar que Espíritos ainda imperfeitos, como os que habitam a Terra, tenham séculos e mais séculos de sofrimento no porvir.
É inquestionável que a pandemia do novo coronavírus trouxe para todos nós uma oportunidade para a reflexão, para revermos as nossas atitudes, tanto individual quanto coletivamente. E é nisso que reside o progresso a ser realizado, já que, historicamente, esse é um momento único em que foi dada ao homem uma grande oportunidade para a reflexão acerca de sua vida e do mundo que habita: Quais as nossas prioridades? Quais frutos estamos colhendo de nossa semeadura? O que temos feito, até agora, dessa nova existência que nos foi concedida? São estas questões de grande importância para o nosso aprimoramento moral.
Seriam, porém, os flagelos destruidores o único mecanismo de se garantir a regeneração do orbe terrestre? A própria questão 738 de O livro dos espíritos informa que Deus emprega todos os dias outros meios para que o homem progrida, ofertando a ele o conhecimento do bem e do mal. A evangelização espírita infanto-juvenil é, portanto, uma engrenagem fundamental no processo de regeneração do planeta, porque contribui com o progresso gradual das almas ao cultivar nos Espíritos reencarnantes a moral e a fé, na fase da vida humana mais propícia ao aprendizado.
Não obstante sermos alvo do problema e, muitas vezes, deixarmos que os sentimentos de ansiedade e medo façam morada em nosso Espírito, temos o sagrado dever de recordar a nossa tarefa diante do Mestre Jesus na orientação e consolação das almas. É preciso dar continuidade ao trabalho mesmo nos momentos de turbulência, aliás, especialmente nesses períodos, quando a alma aflita precisa de esclarecimentos para compreender de forma espiritual o que está acontecendo, adquirir ferramentas morais para lidar com a convivência no lar, suportar a saudade de entes queridos afastados, lidar com a doença e a morte com resignação e grande coragem, recursos estes que o Espiritismo oferece em abundância.
Tais reflexões levantam uma importante questão: como prosseguir a evangelização dentro do atual quadro de afastamento social ? Deus, em sua excelsa bondade, não nos deixaria percorrer essa vereda sem as ferramentas necessárias, legando-nos os recursos tecnológicos para o exercício de nossa tarefa. O avanço da ciência vem ao nosso socorro, possibilitando o contato e o intercâmbio entre almas nesse momento em que as casas espíritas se encontram fechadas. É dessa forma que, através de aplicativos como Whatsapp, Zoom e Google Meet, os conteúdos doutrinários podem ser disseminados, através de mensagens, vídeos, áudios ou videoconferências.
É nesse sentido que o Departamento de Infância vem trabalhando para encorajar os evangelizadores a prosseguirem seu trabalho com as crianças e a família de forma digital, contemplando temas como Regeneração da Terra e Ambiência espiritual do Lar durante esse período. Além disso, o Departamento está promovendoreuniões em âmbito estadual, a fim de esclarecer os evangelizadores acerca dos desafios do momento atual e as possibilidades de superá-los através da utilização da tecnologia, como a realizada no dia 10 de abril, que contou com a participação de mais de 30 representantes de diferentes regionais.
Dada a incerteza do retorno às atividades regulares, os trabalhos digitais prosseguirão. Entre as futuras ações do departamento estão a “Oficina de Evangelização Online”, que objetiva demonstrar ideias práticas para evangelização a distância e a elaboração de seminários com o fim de esclarecer doutrinariamente o cenário atual da Terra, refletindo também sobre como esse tema pode ser abordado com as crianças.
Dessa forma, chamamos todos os evangelizadores do Estado a essa tarefa preciosa à qual o Cristo nos convidou. Avante, amigos! Sigamos fortes e confiantes, pois o Cristo não nos desampara.
* Ana Luísa Boiago é Diretora do Departamento de Infância.