Ciência e Pesquisa Espírita

Diretor: Alexandre Fontes da Fonseca
Email: acpe@usesp.org.br

Equipe/Colaboradores:

– Marco Milani (Diretor do Departamento de Doutrina da USE e Presidente da USE Regional de Campinas).
– Caio Mello (USE Intermunicipal Circuito das Águas).
– Décio Norberto Gomes (USE Regional Grande ABC).
– Luciano Miranda (Jacarei/SP).

Objetivos da ACPE

– esclarecer sobre o que é, como se faz e como se comunicam pesquisas de qualidade científica ou acadêmica, visando orientar espíritas iniciantes no estudo e trabalho de pesquisa espírita;  

– fomentar o trabalho de pesquisa espírita no movimento espírita;  

– oferecer apoio e orientação a pessoas, Grupos ou Centros Espíritas interessados em realizar pesquisa espírita em quaisquer aspectos do Espiritismo. 

Meios de atuação da ACPE

– Cursos específicos e introdutórios sobre ciência, pesquisa, ciência espírita, avaliação de projetos, escrita científica, etc.;  

– Coleta de informações sobre pesquisadores espíritas (cientistas profissionais ou não), e interessados em aprender a fazer pesquisa espírita.

Público alvo da ACPE

– espíritas que não conhecem ainda o modo de trabalho científico e acadêmico de pesquisa.

Atividades da ACPE – USE realizadas até o momento

Pesquisa de opinião sobre “concepções sobre ciência e ciência espírita”

Questionário apresentado ao movimento espírita em Janeiro de 2021. Composto por 30 questões sobre o tema, durante pouco mais de um mês, foram obtidas 441 respostas que foram analisadas posteriores em uma série de artigos publicados no Jornal e Revista Digital, Dirigente Espírita (DE).

Fig 1: Apresentação inicial do questionário ao público.

A análise das questões e respostas foi feita em uma série de 13 artigos publicados na Revista Digital Dirigente Espírita, iniciando na edição 182 de Março/Abril de 2021, e terminando na edição 195 de Maio/Junho de 2023. Os números da Revista estão disponíveis gratuitamente através do seguinte link: https://usesp.org.br/dirigente-espirita/

Lives realizadas

i) “Retrospectiva dos Principais Estudos e Pesquisas Espíritas de 2020”, por Alexandre Fontes da Fonseca, em 06/02/2021, das 15h às 17h, link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=n-Q6I-C-oWc.

A exposição consistiu de uma breve apresentação da ACPE-USE e seus objetivos, seguida da divulgação de pesquisas espíritas ou de interesse espírita realizadas por grupos de pesquisa profissionais e não-profissionais. Exemplos de dissertações e teses com temática espírita, bem como de artigos de pesquisa foram divulgados e comentados. Também foram divulgadas grupos de pesquisa espírita do estado e do país, e algumas iniciativas de congressos e publicações em formatos científicos/acadêmicos. Alguns trabalhos da LIHPE e do Jornal de Estudos Espíritas foram citados.

ii) “As Principais Pesquisas Apresentadas no ENLIHPE de 2021”, por Marco Milani em 23/10/2021, das 15h às 17h, link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=VDnPTAfHnqI .      A exposição consistiu de uma apresentação da LIHPE (Liga de Pesquisadores do Espiritismo) e dos trabalhos apresentados no 16º Encontro da LIHPE. O convidado, Prof. Marco Milani, além de diretor do Departamento de Doutrina da USE e Presidente da USE Regional Campinas, é um dos membros mais antigos da LIHPE e coordenou o 16º ENLIHPE.

iii) “Pesquisa e Pesquisadores do Espiriritismo”, por Humberto Schubert Coelho em 12/02/2022, das 15h às 17h, link: https://www.youtube.com/watch?v=xiphvjiUQRM.

O expositor é filósofo e professor de Filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Ele é pesquisador do NUPES (Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde – UFJF, link: https://www2.ufjf.br/ppgsaude/curso/linhas-de-pesquisa/nupes-nucleo-de-pesquisas-em-espiritualidade-e-saude/) e se especializou no estudo da filosofia das religiões. A sua exposição abrangeu questões pouco discutidas no meio espírita como a diferença na pesquisa sobre o Espiritismo entre pesquisadores espíritas, espiritualistas e materialistas. Ele analisou a gravidade e a importância do movimento espírita estudar e aprender com mais precisão os conceitos de ciência, religião, espiritualismo, para que distorções sejam corrigidas e a prática espírita se torne cada vez mais coerente com a mensagem da Doutrina. Um ponto importante que o Professor Humberto destacou é o dever moral e social das instituições espíritas que resumo a seguir: i) cuidado com opiniões e posições dogmáticas e sem embasamento doutrinário ou científico; ii) investimento continuado e sério na formação e instrução, não apenas transmissão de informações; e iii) estudo crítico e compatível com os princípios kardequianos.

Cursos já realizados (em futuro breve, teremos material escrito disponível no site):

i) Introdução à Ciência & Pesquisa Espírita – 4 aulas
Ementa do curso Ciência & Pesquisa Espírita da ACPE-USE

Alguns dados e os cartazes das edições deste curso já realizadas:

abril 2021

Média: 55 participantes

Setembro 2021

Média: 44 participantes

Março/2023

Média: 20 participantes

ii) Curso escrita científica para os espíritas – 4 aulas

Ementa do Curso de Escrita Científica da ACPE-USE

Alguns dados e os cartazes da edição deste curso já realizada:
Março/2022

Média: 44 participantes

iii) Curso Como Avaliar Projetos Espíritas – 2 aulas

Curso destinado a orientar dirigentes a avaliarem com segurança propostas e projetos de pesquisa a serem realizados nas Casas e Centros espíritas dirigidos por eles.

Ementa do Curso Como Avaliar Projetos Espíritas da ACPE-USE


Alguns dados e os cartazes da edição deste curso já realizada:

Setembro/2022

Média: 15 participantes

Texto da proposta da criação da ACPE – USE – SP

Introdução

No preâmbulo da obra O Que É o Espiritismo, Kardec assim define a Doutrina Espírita (DE):  

“O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas relações.”  

Embora Kardec tenha dito, na Revista Espírita (RE) de maio de 1859 que “O Espiritismo não é, pois, uma religião. Do contrário, teria seu culto, seus templos, seus ministros…”, na RE de dezembro de 1868 ele esclarece em que sentido se pode dizer que o Espiritismo é uma religião:  

“Se assim é, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores; no sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os laços da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre as mais sólidas bases: as próprias leis da Natureza.” (Grifos em negrito, meus).  

Com base nas citações acima de Kardec, percebemos que o Espiritismo não é, isoladamente uma ciência, isoladamente uma filosofia, ou isoladamente uma religião. Mas uma teoria ou doutrina que possui aspectos científicos, filosóficos e religiosos, onde o aspecto “religioso” significa o estudo e vivência das consequências morais e não se relaciona com aspectos exteriores de culto e hierarquia.

Quando se pensa num trabalho de ciência ou de pesquisa em qualquer área do conhecimento, imagina-se que esse trabalho culminará com descobertas e avanços para a respectiva área. No caso do Espiritismo, sabemos com Kardec que  

“Uma última característica da revelação espírita, que ressalta das próprias condições em que ela é feita, é que, apoiando-se em fatos, ela é, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação.” (Kardec, item 55, cap. I, A Gênese, grifos em negrito, meus).  

Logo, o Espiritismo, é progressivo por natureza, como todas as áreas do conhecimento humano. Seu conhecimento deve avançar do mesmo modo como as ciências e outras áreas. Mas esse trabalho de avanço do conhecimento espírita não pode ocorrer de qualquer maneira, sem critérios. O próprio Kardec deixou isso claro (no mesmo item da citação acima) quando disse que    

“O Espiritismo, assim, só estabelece como princípio absoluto o que está demonstrado com evidência, ou o que resulta logicamente da observação.” (Kardec, item 55, cap. I, A Gênese, grifos em negrito, meus).

Mas como trabalhar esse caráter progressivo de modo seguro e coerente com a própria DE? Primeiro, devemos identificar o escopo de trabalho de avanço do conhecimento espírita. As definições de Espiritismo que apresentamos no começo da Introdução nos mostram que o escopo do avanço no conhecimento espírita é formado e compreende os três aspectos explicitados, o científico, o filosófico e o religioso, e não apenas o científico como poder-se-ia pensar inicialmente. Da mesma forma, como ocorre com todas as áreas do conhecimento humano, o avanço de conhecimento espírita também pode ocorrer nos ou atravésdos aspectos filosófico e religioso do Espiritismo. Pode-se, inclusive, realizar esse avanço através de projetos de estudo e pesquisa em mais de um aspecto ao mesmo tempo, ou onde há sinergia entre eles. Isso tem respaldo nas seguintes palavras de Kardec sobre uma das atividades da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (SPEE):  

“O objetivo da Sociedade não é apenas a pesquisa dos princípios da Ciência Espírita. Ela vai mais longe. Estuda também as suas consequências morais, pois é principalmente nestas que está a sua verdadeira utilidade.” (Kardec, RE, julho de 1859).

Sabemos que a palavra “ciência” foi usada por Kardec muitas vezes e em diversos contextos. O apreço que Kardec sempre teve pela ciência pode ser evidenciada em seus textos sobre o assunto como, por exemplo, no item 8 do cap. I do Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE):  

“A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral. Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se.”

O respeito de Kardec pelos resultados da Ciência pode ser percebido nas seguintes palavras do item 55 do capítulo I de A Gênese (GE):  

As descobertas da Ciência glorificam Deus em lugar de rebaixá-lo; elas apenas destroem o que os homens edificaram sobre as falsas ideias que fizeram de Deus.” (grifos em itálico, originais).

Pode-se ver, também, o estímulo de Kardec ao estudo da ciência, na sugestão que ele fez de “Obras úteis para a consulta como complemento de estudo da parte científica da Doutrina Espírita” (item “Ciência”, do cap. III intitulado “Obras realizadas fora do Espiritismo”, da obra Catálogo racional de obras para se fundar uma biblioteca espírita). Ou, ainda, em comentários como abaixo, contido no item 16 do capítulo I de GE:

“… Ora, como este último princípio é uma das forças da natureza que reage incessantemente sobre o princípio material e, reciprocamente, disso resulta que o conhecimento de um não pode estar completo sem o conhecimento do outro, que o Espiritismo e a Ciência se completam; que a Ciência, sem o Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos somente pelas leis da matéria; e por ter prescindido do princípio espiritual se vê ao meio de tantas dificuldades; que o Espiritismo sem a ciência careceria de apoio e de controle e poderia equivocar-se. Se o Espiritismo tivesse vindo antes das descobertas científicas, teria fracassado, como tudo quanto surge antes do tempo, …” (grifos em itálico, originais).

Os comentários de Kardec acima reproduzidos demonstram a enorme consideração que ele tinha pela atividade científica. Kardec tinha consciência do potencial da Ciência na revelação e descoberta das leis da natureza, e o benefício disso para a sociedade. Por essa razão, ele disse que o Espiritismo foi elaborado, descoberto, investigado, pesquisado de forma similar ao que as Ciências fazem (itens 14 e 15 do cap. I da GE). Kardec percebeu que precisava utilizar critérios e métodos de avaliação similares aos que eram usados pela Ciência, poderosos na distinção do que podia ou não ser considerado uma verdade natural, para respaldar e solidificar as descobertas espíritas. Se tivesse surgido antes do desenvolvimento da cultura sobre a importância dos métodos e critérios de validade da Ciência, o Espiritismo teria tido poucos argumentos a oferecer em favor da validade de seus princípios. Pouco teria a oferecer contra a tradição e outros tipos de preconceitos. Sem essa noção de que métodos de pesquisa podem validar as hipóteses tornando-as um conhecimento válido, o Espiritismo perderia uma de suas forças. Combine-se isso à constatação do Espiritismo como uma teoria fenomenológica (ver, sobre isso, os artigos de CHIBENI (1994, 1988)), e podemos formar uma boa ideia da robustez da Doutrina Espírita como teoria, única na atualidade, capaz de descrever e explicar os fenômenos psíquicos. O espírita tem, dessa forma, razões sólidas para confiar no corpo teórico que compõe o Espiritismo, presente nas obras de Kardec, como modelo ou paradigma para realizar trabalhos de pesquisa espírita.

Por essas razões, pelo profundo respeito ao trabalho sério da Ciência, é que Kardec pronuncia uma das frases mais conhecidas do meio espírita:

Caminhando juntamente com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas demonstrarem estar em erro sobre um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.” (Kardec, item 55 do cap. I da GE. Grifos em itálico, originais).

Ou seja, Kardec chega ao ponto de considerar que a Ciência, se usada com a devida seriedade, teria autoridade para demonstrar erros e fazer avançar o Espiritismo, desde que, é claro, ela proveja resultados totalmente validados e não especulações. A lucidez de Kardec é tanta, que ele também deixou registrado na GE (item 54 do cap. I) um comentário que reflete a forma pela qual o movimento espírita deve trabalhar o avanço do conhecimento espírita, e que é um dos objetivos e motivações da criação do ACPE:

54. Não há nenhuma ciência que tenha saído pronta do cérebro humano. Todas, sem exceção, são fruto de observações sucessivas, apoiadas em observações precedentes, como de um ponto conhecido para chegar ao desconhecido. Foi assim que os Espíritos procederam com relação ao Espiritismo, razão pela qual, o ensinamento que ministraram é gradual, pois eles não abordam as questões, senão à medida que os princípios sobre os quais se apoiavam estivessem suficientemente elaborados e a opinião tivesse alcançado a maturidade necessária para assimilá-los. (…) Não confiou Deus a um único Espírito a responsabilidade de promulgar a doutrina, quis Deus, também, que o mais pequenino, como o maior, tanto entre os Espíritos, como entre os homens, trouxesse sua pedra para o edifício, a fim de estabelecer entre eles um elo de solidariedade cooperativa, que faltou a todas as doutrinas decorrentes de uma única fonte. (…) Essa ainda é uma razão por que, em cumprimento dos desígnios do Criador, não podia a doutrina ser obra nem de um Espírito só, nem de um só médium. Tinha que emergir da coletividade dos trabalhos, comprovados uns pelos outros.” (Grifos em negrito, meus).  

Essa última frase de Kardec não podia representar melhor a forma de trabalho da Ciência! Isto é, a Ciência é movida pela “coletividade dos trabalhos” com a importante característica de que os trabalhos de pesquisa só se tornam verdades aceitas e úteis se são “comprovados uns pelos outros”. Assim, o trabalho de pesquisa espírita pode e deve contar com a contribuição de todos aqueles que, imbuídos do sincero desejo de estudo e aprofundamento da DE, queiram contribuir com o avanço do conhecimento espírita. Isso só irá ocorrer através da participação cada vez maior, de pessoas nesses trabalhos de pesquisa espírita, teórico e/ou experimental. O progresso do Espiritismo será uma atividade coletiva, democrática, onde todos podem participar, e não apenas alguns estudiosos e pesquisadores. Como a seriedade desse trabalho exige preparo, a proposta de criação de um ACPE da USE, é oferecer auxílio, suporte, apoio e orientação a pessoas e/ou grupos espíritas que tenham interesse em contribuir com o avanço do conhecimento espírita, em realizar trabalhos de pesquisa com rigor, métodos e critérios que estejam em total coerência tanto com o Espiritismo quanto com a Ciência.  

A fé raciocinada é um pilar do Espiritismo. Como disse Kardec (item 6, cap. XIX do ESE): “… o que é verdadeiro na obscuridade, também o é à luz meridiana.” E ainda citando Kardec (item 7, idem),  

“A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender.” (Kardec, item 7, cap. XIX do ESE, grifos em itálico, no original, em negrito, meus).

Em uma época como a atual, onde a internet veicula todo tipo de informações, incluindo ideias e sistemas pessoais, fakenews, teorias pseudo-científicas, etc., a forma acadêmica de trabalho de pesquisa representa, na atualidade, a forma mais cuidadosa e segura de se buscar e encontrar “a inteligência perfeita” de hipóteses ou descobertas que se desejam demonstrar. É uma forma segura de contribuir para o avanço do conhecimento espírita.

O interesse no aspecto científico do Espiritismo é grande e antigo no meio espírita. Podemos citar o trabalho de grande reputação da Liga de Pesquisadores do Espiritismo (LIHPE, www.lihpe.net), dos congressos da Associação Médico-Espírita (AME), da existência de periódicos espíritas destinados à publicação de artigos de pesquisa como o Jornal de Estudos Espíritas (JEE, com 10 anos de existência, é o único periódico espírita que tem cadastro no DOI, Digital Object Identifier, um serviço de cadastro internacional de produção de conhecimento, https://sites.google.com/site/jeespiritas/), e outras iniciativas que não citamos apenas por limitação de espaço. Se criado, o ACPE da USE poderá atuar não somente na orientação sobre como realizar um bom trabalho de pesquisa, mas também em como divulgar apropriadamente os resultados desses trabalhos de pesquisa.

Nisso, baseados nos comentários acima de Kardec; no interesse do movimento espírita no aspecto científico do Espiritismo; no fato de que poucos ainda no movimento espírita tem formação e experiência acadêmicas em pesquisa; na possibilidade de orientar pessoas interessadas em estudos e pesquisas espíritas sem a necessidade de deter títulos acadêmicos; na importância de se ressaltar que não apenas o aspecto científico do Espiritismo é importante no processo de avanço do conhecimento espírita, mas também dos aspectos filosófico e religioso/moral; na importância de mostrar que o avanço do conhecimento espírita pode ser realizado de modo teórico ou experimental; propomos à Direção da USE-SP avaliar a presente proposta de se criar uma assessoria dedicada ao esclarecimento, orientação e apoio aos centros, grupos e demais pessoas espíritas interessadas em apoiar e/ou realizar trabalhos de pesquisa espírita, em consonância com os princípios doutrinários.

A seguir, então, descreveremos os objetivos dessa proposta, metodologia de trabalho, e equipe que comporia essa comissão.

Objetivos

A ACPE – USE tem como principal objetivo fomentar o trabalho de pesquisa espírita no movimento espírita e oferecer apoio e orientação a pessoas, Grupos ou Centros Espíritas interessados em realizar trabalhos ou projetos de pesquisa espírita, em quaisquer aspectos do Espiritismo. Suas atividades serão realizadas de modo totalmente voluntário. Seu trabalho será de natureza consultiva, isto é, de prestação de esclarecimentos, orientações e recomendações sem qualquer tipo de exigência ou imposição junto aos grupos interessados.

Sendo um departamento da USE, a ACPE será naturalmente subordinada à diretoria e/ou presidência da USE e suas decisões. Isto é, todo produto do trabalho da ACPE e/ou qualquer material destinado à divulgação, deverá passar pela análise da diretoria e/ou presidência da USE, e só poderá ser transmitido ou divulgado com aprovação das mesmas (salvo prévio acordo ou determinação de autonomia decididos ou propostos pela direção e/ou presidência da USE).  

Como uma assessoria da USE, a ACPE poderá agir em parceria com outros departamentos da USE, visando apoio e esclarecimento em atividades de pesquisa que envolvam conteúdos de interesse desses outros departamentos como, por exemplo, pesquisas que envolvam mediunidade (Departamento de Mediunidade), pesquisas que envolvam ensino de Espiritismo (Departamentos de Evangelização e ESDE), pesquisas que envolvam o aspecto doutrinário (Departamento de Doutrina), etc.

Em termos mais específicos, os objetivos da ACPE da USE seriam:

– analisar projetos e propostas de pesquisa espírita oriundos de pessoas, Grupos ou Centros Espíritas;

– emitir, com base na DE e dentro do possível, com base em conhecimento de natureza técnica/científica, pareceres com esclarecimentos doutrinários, técnicos, e científicos a respeito de projetos e propostas de pesquisa espírita;

– divulgar e intermediar a procura por recursos diversos (humanos, bibliográficos, financeiros, etc.) para pesquisa espírita. Por exemplo, após avaliar um projeto de pesquisa que envolva o fenômeno da mediunidade, a ACPE pode auxiliar na busca por centros ou grupos espíritas que possam colaborar com médiuns para o respectivo projeto. Nesse caso, a ACPE também forneceria orientação e apoio a esse grupo de médiuns para realizarem a proposta com segurança, discrição e, sobretudo, com coerência doutrinária;

– atrair, intermediar e aproximar dos grupos de pesquisa espírita de possíveis patrocinadores espíritas (empresários espíritas, por exemplo) que possam desejar apoiar projetos de pesquisa espírita sérios, com o mínimo de dúvidas a respeito tanto da qualidade técnica, quanto da coerência doutrinária dos mesmos, através da preparação de relatórios e pareceres;

– sugerir propostas de estudo e pesquisa de interesse espírita;

– divulgar opções de veículos sérios de divulgação e publicação do tipo acadêmico/ científico para os artigos dos grupos de pesquisa, bem como divulgar chamadas de congressos, encontros e workshops em torno de temas de pesquisa espírita;

– oferecer orientação e apoio a projetos de pesquisa que venham ser de iniciativa e interesse da própria USE sede, das USEs regionais ou USEs municipais;

– criar e/ou promover palestras, cursos, material de divulgação sobre ciência e pesquisa espírita, incluindo sobre como escrever projetos de pesquisa, visando o esclarecimento e disseminação do assunto;

– propor e coordenar encontros de apresentação de trabalhos de pesquisa espírita, bem como ajudar a USE – sede a coordenar salas ou atividades relacionadas ao tema de pesquisa espírita em encontros e congressos da mesma;

– visitar, quando possível, grupos de pesquisa espírita para avaliação dos resultados de pesquisa.

Um dos principais objetivos que está implícito nessa proposta, é poder, ao longo dos anos, realizar um trabalho de orientação do movimento espírita sobre essa importante face do estudo e aplicação dos conhecimentos espíritas.

A seguir descreveremos a metodologia de trabalho.  

Metodologia de trabalho

Basicamente, o trabalho da ACPE envolverá divulgação de suas atividades, recebimento e preparação de respostas a pedidos de consultas, esclarecimentos a respeito do trabalho de pesquisa espírita, preparação de material para divulgação, e organização do trabalho de análise que poderá ocorrer por convite a pareceristas anônimos.

A divulgação das atividades da ACPE está a cargo do seu responsável e assessores. A preparação do material a ser divulgado pela USE deverá passar pela aprovação da diretoria e/ou presidência da USE.

A ACPE deverá ter um site e um e-mail para contato e recebimento de pedidos de consultas a propostas, e de esclarecimentos. O responsável e sua equipe ficarão responsáveis pelo recebimento e análise dos pedidos.

No caso de pedidos de análise de projetos de pesquisa espírita, os membros da ACPE poderão realizar uma análise prévia perante critérios a serem definidos pela ACPE (e aprovados pela direção da USE), e poderão se servir de pareceristas anônimos, dentre pessoas idôneas, espíritas e com experiência em pesquisa, para análise complementar ou específica para fins de verificação. Essa prática é comum em agências de fomento à pesquisa, embora nem a ACPE, nem a USE, venham a patrocinar nenhum projeto. Esse tipo de análise é muitas vezes importante como fator de isenção e de imparcialidade. Isso é importante para agregar confiança na análise de pedidos seja por parte do próprio grupo que a solicitou; seja para fornecer a possíveis patrocinadores, um respaldo com maior segurança de que mais pessoas analisaram os diferentes aspectos sob os critérios doutrinário e científico da proposta.    

Equipe

A equipe proposta para coordenar e auxiliar os trabalhos da ACPE – USE é formada por:

– Coordenador ou responsável;
– Assessores.

A escolha do coordenador ocorrerá por indicação da diretoria e/ou presidência da USE. A escolha dos assessores ocorrerá por escolha do Coordenador.

Propõe-se que a duração das pessoas nessas posições seja a mesma da duração nas posições de direção da USE. Porém, sem restrições para participação na coordenação por diversos mandatos.    

Conclusão

A criação de um departamento da USE nos moldes e com os objetivos descritos nessa proposta, é algo inédito no meio espírita. Até onde este proponente tem conhecimento, nenhum órgão de unificação ou federativa espírita possuiu ou propôs a existência permanente de tal tipo de departamento. Algumas associações e grupos, como a LIHPE e a AME, possuem seus setores de fomento à pesquisa, mas limitados ao âmbito dos que participam dos mesmos. Uma iniciativa com capacidade e objetivo de atrair o interesse de todo o movimento espírita estadual jamais foi tentada antes.

Uma motivação para a apresentação desta proposta, decorre do interesse manifestado no meio espírita sobre o assunto. Existe um apelo crescente no movimento espírita pelo desenvolvimento do aspecto científico do Espiritismo. Nisso, um departamento como a ACPE poderá ajudar a preencher uma importante lacuna no movimento espírita: a de orienta-lo na realização desse apelo de modo seguro e coerente com a DE. O movimento espírita não é ou não forma uma comunidade acadêmica com experiência profissional no trabalho de pesquisa científica e acadêmica, salvo alguns de seus membros. Muitos não sabem nem percebem que o avanço do conhecimento espírita também pode se dar através dos aspectos filosófico ou religioso do Espiritismo. A ACPE terá esse papel de esclarecimento do escopo de pesquisa e avanço do conhecimento espírita. Há o interesse no aspecto progressivo do Espiritismo, mas há também a necessidade de haver um certo preparo para a realização de trabalhos de pesquisa de modo sério e criterioso. Há que considerar que a inexperiência científica abre brechas para inserção de conceitos que parecem ser científicos ou ter bases científicas, mas cuja análise aprofundada revela superficialidade no uso dos conceitos científicos. O interesse nas relações entre conceitos da Física (ou mais particularmente, da Física Quântica) e o Espiritismo é um exemplo do desconhecimento e inexperiência científicas que geram superficialidade. O que parece um avanço científico, pode se tornar um desvio de objetivos espíritas, e isso é algo indesejável frente aos objetivos do Espiritismo. Um dos desafios da ACPE será justamente conseguir semear o apreço pela seriedade na realização de trabalhos de pesquisa espírita.

Por outro lado, há grupos que parecem execrar estudos e práticas espíritas de natureza religiosa. Isso nos parece incoerente com a proposta de Kardec de avanço do conhecimento espírita conforme citado na Introdução. Na medida do possível, a ACPE irá trabalhar no esclarecimento do que constitui o escopo de trabalho no avanço do conhecimento espírita, que inclui o aspecto religioso do Espiritismo.

Importante observar que as atividades propostas para a ACPE não competirão nem se sobreporão às atividades dos outros departamentos da USE. Pelo contrário, acreditamos que a ACPE irá somar esforços com os demais departamentos da USE no trabalho disseminação e valorização da DE, bem como de orientação às Casas Espíritas em torno de um importante aspecto do Espiritismo. 

Bibliografia:

A. KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo.
A. KARDEC, O Livro dos Médiuns.
A. KARDEC, O Livro dos Espíritos.
A. KARDEC, A Gênese.
A. KARDEC, O Que É o Espiritismo.
A. KARDEC, Viagem Espírita em 1862 (re-edição da FEB, 2005).
A. KARDEC, Catálogo racional de obras para se fundar uma biblioteca espírita.
A. KARDEC, Revista Espírita.
S. S. CHIBENI, 1988. “A Excelência Metodológica do Espiritismo”, Reformador novembro, 328 (1988); e dezembro, 373 (1988). Artigo reproduzido no link: http://www.geeu.net.br/artigos/exemet.html, acessado em 28/01/2020.
S. S. CHIBENI, 1994. “O Paradigma Espírita”, Reformador junho, 176 (1994). Artigo reproduzido no link: http://www.geeu.net.br/artigos/paradigma.pdf, acessado em 28/01/2020.