Obsessor portátil

Eriberto Kotelak, em O Clarim, de janeiro de 2020

O grande problema é quando o indivíduo não tem consciência do quanto está fazendo mal a ele mesmo e aos outros.

Para nós, espíritas, a palavra obsessor não é desconhecida, mas para aqueles que estão chegando agora a esta maravilhosa doutrina, a palavra soa como algo muito negativo e não raras vezes assusta. Agrava-se a situação quando a pessoa procura uma instituição espírita e, de forma equivocada, o colaborador lhe fala que está sofrendo uma obsessão terrível; normalmente orienta ainda que a pessoa precisa desenvolver a mediunidade, como se só isso resolvesse a situação.

A pessoa vem até a casa espírita, muitas vezes como último recurso dos problemas espirituais que está enfrentando nos últimos tempos, e ouve que tem de desenvolver uma tal mediunidade, algo que, às vezes, ela nunca ouviu falar. Vem buscar ajuda e sai “mais assustada” ainda!

Aqueles que trabalham no atendimento fraterno sabem vem que muitos dos que nos procuram são pessoas provenientes de outras religiões, com pouco conhecimento do Espiritismo ou das palavras normalmente usadas por nós.

Entretanto, muitos têm conhecimento que nesta ou noutras encarnações sintonizamos com algum Espírito pouco elevado e que este se torna “nosso obsessor”, seja por afinidade de ideias e pensamentos, seja por questões de vinganças decorrentes de alguma ação nossa equivocada do passado, de que, na maioria das vezes, não temos lembrança. Conhecer-nos é a principal ferramenta para reconhecer quando não estamos agindo de acordo com nossa essência.

Não é uma regra, mas em geral a obsessão ocorre com a ação de um Espírito desencarnado, que possui maldade, desgosto e infelicidade, adquiridos ao decorrer de sua vida carnal. São Espíritos menos esclarecidos, que vivem em plena angústia e invejam a alegria, as realizações e a honestidade dos encarnados. E por isso, muitas vezes até sem perceberem, buscam fazer o mal, para aliviar toda tensão que suas existências causam neles próprios.

É importante compreender que não é porque a pessoa é espírita, ou tem o melhor caráter, ou muita fé que não está submetida a passar por isso. Todos nós podemos ser alvos. O grande problema é quando o indivíduo não tem consciência do quanto está fazendo mal a ele mesmo e aos outros; assim, passam a ter seu próprio “eu” reprimido e age de modo inconsciente ou semi-inconsciente.

Não podemos, porém, acreditar que tudo que acontece de ruim em nossas vidas é fruto de um Espírito obsessor. Por isso o caminho da espiritualidade é tão importante para podermos nos fortalecer internamente, seja este caminho numa casa espírita, uma igreja, terreiro, templo ou qual seja seu fortalecimento interior. Nossa mente e Espírito são os principais influenciadores e comandantes de nossa vida, por isso devemos mantê-los sempre saudáveis e equilibrados.

Fernando Rossit, espírita e psiquiatra, refere que a dependência das pessoas em redes sociais tornou-se algo alarmante e perigoso, a tal ponto de eu me referir neste texto como um “obsessor portátil”, e que a grande maioria de nós leva por todos os lugares.[1]

Nosso colega diz que por trás de um computador, smartphone, tablet ou de qualquer dispositivo eletrônico existe um ser humano. E na frente também. Este ser humano nada mais é do que um Espírito encarnado, e como tal, passível de muitos problemas, especialmente da obsessão.

Já não é de hoje que Espíritos amigos nos têm alertado, através de mensagens psicografadas, que a hipnose da internet seria uma das mais espertas táticas das trevas para dominar a Terra, e eu sinto informar: elas estão conseguindo.

As pessoas se tornam chatas e extravasam, muitas vezes, seu vazio existencial e suas frustrações nas redes sociais, seja atacando, seja usando-as em demasia. Não se abraçam mais, não telefonam mais, não fazem mais visitas regulares a amigos e parentes. É quase tudo através de texto. E mesmo que estejam em meio à natureza numa praia ou cachoeira, lá está o smartphone para pegar o melhor ângulo de uma selfie que será postada em algum perfil on-line. Está faltando o toque, faltam palavras, falta olhar. E não é isto que os Espíritos das trevas querem de nós ?

Como espíritas, conhecedores que algumas revelações são importantes, devemos refletir sobre o uso que cada um de nós vem fazendo dos dispositivos eletrônicos. É claro que não precisamos abandonar a tecnologia, que tanto nos auxilia no dia a dia em diversos setores. O que precisamos é de bom senso, fazendo um uso equilibrado, evitando as discussões desnecessárias e, de preferência, deixando o celular desligado quando estivermos com nossos entes queridos, ou no momento das refeições.

Lembremos sempre que mais importante do que uma boa sessão de desobsessão é evitar este processo complexo, mantendo constantemente um bom padrão vibratório e cuidando com afinco da nossa reforma íntima. Orando e vigiando.

[1] Disponível em: www.blogdolivroespirita.com/2015/11/a-obsessao-espiritual-e-as-redes-sociais.html.

Eriberto Kotelak (nepompmpr@gmail.com) é policial militar aposentado, palestrante, tem dois livros publicados e frequenta o Centro de Estudos e Pesquisas Espíritas de Curitiba/PR.

Deixe uma resposta