Fluidos espirituais obedecem aos passes longitudinal e transversal ?
Alexandre Fontes da Fonseca *

Na matéria anterior, mostramos, com base em Kardec, que o uso de técnicas no passe não tem base doutrinária. Aqui, complementaremos a questão anterior: os movimentos de braços e mãos conhecidos como longitudinal e transversal são necessários para infundir ou dispersar fluidos? Há bases doutrinárias para justificar isso?
Resposta: SIM ( ) NÃO ( X ).
O princípio doutrinário que fundamenta a resposta está no item 14 do capítulo XIV de A Gênese:
“Os Espíritos agem sobre os fluidos espirituais, não os manipulando como os homens manipulam os gases, mas com a ajuda do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade são para os Espíritos o que a mão é para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem aos fluidos espirituais esta ou aquela direção; eles os aglomeram, combinam ou dispersam;” (Grifos em negrito, meus).
Essas afirmativas são muito claras. Os fluidos espirituais não obedecem aos movimentos das mãos. Segundo a Doutrina Espírita (DE) são o pensamento e a vontade que determinam “esta ou aquela direção” que os fluidos devem seguir; como ou quanto eles devem se “aglomerar”; como devem se “combinar”; ou se “dispersar”.
Os cinco tipos de movimento mais comuns que são praticados no passe são: 1) movimento longitudinal de mãos devagar ou parando sobre um órgão para infundir ou aglomerar fluidos no assistido ou no órgão; 2) movimento longitudinal rápido para remover ou dispersar maus fluidos ou em excesso; 3) movimentos transversais rápidos para dispersar fluidos. Acredita-se que para interromper um transe mediúnico, a técnica do movimento transversal rápido seria capaz de desfazer a combinação de fluidos entre o médium e o desencarnado; 4) ao término de um movimento longitudinal, é necessário fechar as mãos ao reposicioná-las sobre a cabeça do assistido para não perturbar o fluxo de fluidos; 5) ao término do passe, é necessário fechar uma das mãos e coloca-la nas costas, e posicionar a outra mão aberta sobre a cabeça do assistido.
Alguns dizem que seria para fechar o campo fluídico do assistido. Há quem chega ao ponto de dobrar o corpo para aplicar um passe longitudinal num nenê deitado de lado no colo de outra pessoa porque pensa que a direção e sentido do passe são relevantes.
Infelizmente, nenhuma dessas técnicas e práticas tem base em conceitos da DE. Cita-se, como referências, obras mediúnicas ou de encarnados que não justificam tais práticas com base em Kardec. Segundo a DE, não são os movimentos longitudinal, transversal, ou de abrir ou fechar as mãos (ou dedos) que vão movimentar, infundir (aglomerar) ou dispersar fluidos, nem abrir ou fechar o campo fluídico do assistido. Somente o pensamento e a vontade agem sobre os fluidos espirituais.
Os irmãos que fazem uso dessas técnicas, pensam que elas são efetivas e, ao acreditar nessa efetividade, direcionam os fluidos com esse pensamento. É como o religioso que acredita no poder de uma vela, ritual ou talismã. Embora pensem que direcionam os fluidos com os movimentos das mãos, é o pensamento deles que os movimentam. Apesar do resultado final ser efetivo para o assistido, é fundamental ensinar e esclarecer o que é doutrinariamente correto a todos os companheiros espíritas. A fé raciocinada assim o exige.
Alguns argumentam que se não houver movimentos no passe, os assistidos vão pensar que não estão recebendo ajuda espiritual e esse pensamento atrapalharia o recebimento de bons fluidos. Realmente, o pensamento dos assistidos é importante no recebimento da ajuda espiritual. Mas é responsabilidade do movimento espírita, e uma forma de caridade, educar os assistidos nesse assunto. A simples imposição de mãos já proporciona um sinal suficiente de que o passe está sendo aplicado. O objetivo da DE é o esclarecimento doutrinário do Evangelho e o incentivo à dependência dos movimentos do passe não é caridade. A DE garante que se um assistido estiver, realmente, necessitado do auxílio do passe, irá recebe-lo independentemente da utilização de movimentos das mãos. A DE garante que um nenê no colo irá receber bons fluidos pela simples imposição de mãos e ação do pensamento.
Dirigente espírita, se a Casa Espírita sob sua responsabilidade ensina e pratica o passe com a utilização de técnicas e movimentos, está na hora de esclarecer os colaboradores. Note que não precisa mudar a atividade de uma hora para outra. Trabalhe primeiro o esclarecimento doutrinário dos colaboradores. Oriente-os, por exemplo, a estudar o capítulo XIV de A Gênese. Coloco-me à disposição para ajudar, se precisar. O esforço nesse sentido é responsabilidade dos dirigentes e colaboradores espíritas, além de uma forma de caridade para com adeptos e frequentadores espíritas.
Bibliografia
KARDEC, A. 1996. O livro dos médiuns. Editora FEB, 96ª edição, Rio de Janeiro, RJ.
* Alexandre Fontes da Fonseca é físico e professor da Unicamp, escritor e palestrante espírita.