Não nos deixemos enganar

Orson Peter Carrara *

Se você se sente perturbado, angustiado, necessitado de orientação e busca respostas ou ajuda, fique atento. Nem sempre essa ajuda será oferecida por pessoas honestas ou comprometidas com o bem-estar do semelhante. Por ignorância (não no sentido pejorativo, mas sim no sentido de não saber mesmo), despreparo ou más intenções mesmo (como infelizmente tem ocorrido até com certa frequência), muita orientação oferecida se transforma em desdobramentos lamentáveis, com prejuízos emocionais e psicológicos de expressão na vida de muita gente.

Pessoas humanas somos falíveis, sujeitos a equívocos e distrações, seduzidos muitas vezes pela vaidade ou pelas variadas paixões, manipulados por vontades alheias ou conduzidos por impressões e imperfeições que tanto nos caracterizam, que nos dão visão limitada e bem pequena da realidade que nos cerca, bem como dos objetivos maiores nas ocorrências e acontecimentos.

Ao procurar um centro espírita, por exemplo, para pedir ajuda ou buscar respostas, preste atenção. Se a pessoa que atendê-lo, amedrontá-lo, assustá-lo, ameaçá-lo, chantageá-lo ou  mesmo   cercá-lo  de  informações  esdrúxulas, detalhando seu passado ou seu futuro e até fizer previsões ou mesmo indicar perseguições espirituais, esqueça ! Isso não é uma orientação espírita. O grupo que você foi pode até estar preparado, mas a pessoa que atendeu está despreparada ou não foi bem orientada. O serviço de atendimento fraterno de uma instituição espírita ou mesmo qualquer pessoa chamada de espírita que você procura para conversar e pedir orientação, não existe para assustar ou ameaçar. O diálogo com qualquer pessoa de bom senso deve primar-se pela ordem, pelo respeito mútuo, numa análise ponderada, sem uso de argumentos ou citações que piorem a situação.

Ninguém tem o direito de ameaçar, explorar, ditar procedimentos, exigir. Podemos sugerir, claro, o que não significa que será aceito, o que se enquadra na liberdade individual da escolha a ser feita. Portanto, se você está diante de pessoa que ameace, ordene, exija ou tente qualquer tipo de exploração, esqueça. Isso não é orientação espírita. Esse não é um espírita. Isso contrasta totalmente com a orientação espírita.

Num centro espírita sério não há revelações do passado ou do futuro, não há previsão de  datas ou acontecimentos, não há consultas a torto e direito (usando expressão popular) aos Espíritos para as mínimas questões que nós mesmos podemos discernir ou resolver. Aliás, dependência de Espíritos é outro equívoco que você pode prestar atenção. Não temos que seguir pessoas, médiuns ou Espíritos, temos que seguir a Jesus, o único infalível que pisou neste planeta.

Se você perceber que há dependência de tal médium, de tal Espírito, isso deixa de ser prática espírita. Poderá ser prática mediúnica, mas não espírita. O fenômeno pode ser real, mas deixa de ser espírita, pois que o fenômeno espírita se prima pelo desejo único de auxiliar as pessoas, sem qualquer tipo de ritual ou dependência de médiuns ou Espíritos, atendentes ou palestrantes, todos instrumentos da Bondade Divina, mas livres para escolher caminhos de equívocos, aos quais responderão pelos desdobramentos advindos, no devido tempo.

Cuidado e prudência, pois. E você, naturalmente, vai se perguntar: Mas como vou saber a quem procurar com segurança ?

É simples e fácil: basta observar com atenção. Qualquer prática que traga em seu contexto ausência do bem e mistura  de personalismo, ou indique malícia, exploração de qualquer tipo  ou mesmo imposições e até mesmo previsões e também informações fáceis sobre passado e futuro, esqueça. Isso não é prática espírita. Isso é mediunismo sem responsabilidade.

E se exigir que você faça algo, seja um pagamento ou um comportamento, afaste-se. Isso não é Espiritismo. Pode ser o que for, mas não é Espiritismo. Espiritismo   é  simplicidade,  fé, fraternidade. Se não houver bondade com simplicidade, está manchado pelo egoísmo humano que busca outros propósitos.

Não se deixe enganar, pois. Busque ajuda sempre que precisar, com quem lhe mereça confiança. Sempre que houver exigências ou imposições, desconfie.  Busque sim, um grupo sério, espírita ou de qualquer outra crença, onde haja sinceridade e desejo do bem. Isso é o que importa. Nenhum de nós pode se colocar no pedestal de orientadores, embora possamos sim, nos tornarmos mutuamente amparadores uns dos outros, em diferentes situações. Mas em essência somos todos aprendizes, desejando aprender uns com os outros. Toda vez que alguém se coloca na posição de sábio e infalível, pronto, já começou aí sua derrocada. Se encontrar alguém assim, ele é digno de nossa compaixão e precisa de preces, pois está se perdendo na própria vaidade.

Uma leitura atenta à Introdução de O evangelho segundo o espiritismo, especialmente no subtítulo II – Autoridade da Doutrina Espírita – Controle Universal do ensino dos Espíritos, fornece a todos nós lúcida orientação que nos ajudará a perceber o  quanto de discernimento precisamos desenvolver em nós mesmos – estejamos na posição de quem deseja ajudar ou de quem busca ajuda – para perceber autenticidade e confiança ou equívocos de entendimento.

O texto é muito oportuno, lúcido, extremamente atual e de peculiar orientação. Sugerimos buscá-lo. Vai nos fazer imenso bem.

* Orson Peter Carrara é escritor e expositor espírita.

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